segunda-feira, novembro 09, 2009

As palavras que o nosso PM devia ler (e no fundo, toda a gente)

Este país é para pobres
00h26m

Aumentar o salário mínimo para 500 euros não serve para nada. Não nos aproxima dos europeus, que ganham muito mais que isso, e afasta-nos dos chineses e indianos, que trabalham por uma malga de arroz. O que seria da nossa competitividade?

1 - Regressam os debates ao Parlamento, regressam as boas notícias. Mostrando um elevado sentido de responsabilidade social, o Governo anunciou que vai aumentar as pensões. Quanto mais baixa a pensão, maior será o aumento. No limite, pode chegar à loucura de subir 1,25%. Mais ainda, como oportunamente lembrou o primeiro-ministro: se a lei fosse cumprida, as pensões não só não aumentariam, como teriam de diminuir. Tudo por causa da inflação negativa. Ou seja, os pensionistas com pensões miseráveis terão um aumento real que chega aos 2%. E em tudo isto, o Estado vai gastar, de forma altruísta, 150 milhões de euros, que tanta falta fazem, por exemplo, para tapar o buraco do BPN, ou para a construção de uma terceira ponte sobre o Tejo. O senhor Silveira, reformado e residente em Torneiros, Vila Real, recebeu a notícia de forma efusiva. A sua pensão passará de uns míseros 374 euros, para uns abastados 378 euros. Poderá deixar a venda de couves e grelos que cultiva no quintal, para se dedicar a tempo inteiro a programas de turismo sénior.

2 - Nada como as sábias declarações de um antigo ministro das Finanças, ainda por cima também antigo administrador do Banco de Portugal, para acabar com a balbúrdia que se adivinhava no que diz respeito a aumentos salariais. Silva Lopes não esteve com meias tintas e qualificou os aumentos salariais, quaisquer que sejam, como "fábricas de desemprego". Um dia depois, José Sócrates mostrava ter tomado boa nota dos conselhos, deste ou de outros economistas. E no que lhe diz respeito, o aumento das pensões será mesmo a única loucura a cometer. Quanto ao salário mínimo, o melhor é renegociar os prazos, assume o primeiro-ministro. Porque o que estava aceite por sindicatos e patrões, agora já não convém aos patrões. Sendo que o que estava acordado era a ousadia de passar o salário mínimo de 450 para 475 euros em 2010, e para uns incríveis 500 euros já em 2011. Com nenhuma vantagem, como é evidente. Porque não só não nos aproxima dos europeus, que ganham muito mais que isso, como nos afasta dos chineses e dos indianos, que aceitam trabalhar por uma malga de arroz. Se começassem para aí a dar aumentos salariais, pequeninos que fossem, o que aconteceria à nossa competitividade?

3 - Os lucros da Corticeira Amorim aumentaram no terceiro trimestre do ano, pela terceira vez consecutiva. Foram 5,7 milhões de euros (3,6 milhões no mesmo período do ano passado). Lucros que só se conseguiram graças a vendas de 103 milhões de euros. E é aqui que bate o ponto. Porque, ao contrário dos lucros, as vendas apresentam valores mais baixos do que um ano antes. Assim, se há lucro, isso deve-se à diminuição dos custos da empresa. E como conseguiram os notáveis gestores da Corticeira Amorim diminuir os custos para aumentar os lucros? Com o despedimento de cerca de duas centenas de trabalhadores, pois claro. Mas atenção que a isto não se chama "fábrica de desemprego", chama-se visão estratégica.

Rafael Barbosa in "JN", 9 de Novembrode 2009

domingo, outubro 25, 2009

Welcome to the UK

Regenerado, cá estou eu. A gestação finalmente evoluiu para um florescer. Depois da morte da minha avó, do doloroso tempo de luto, finalmente um Sol. Em pleno Inverno.
Não é fugir, é encontrar um espaço onde o coração esteja finalmente ao largo. E o meu coração encontrou-se no Reino Unido.
Sob o pretexto de um mestrado, fiz as malas, apanhei o avião, encontrei um apartamento onde me sentisse bem... e regenerado, cá estou eu.
O destino foi Exeter, Devon. Sudoeste de Inglaterra, pertinho do País de Gales. Aqui há uma praia perto, há dois parques nacionais. A cidade é bonita e sem ter nada de exuberante para oferecer, faz-nos sentir bem vindos.
O campus da Universidade é lindissimo, como un Hogwarths real, bem no meio do campo.

Confesso que ainda não visitei grande coisa. Contudo, tenho tempo.

Saudades? Só da familia e dos amigos.
(Talvez do café e de alguma comida)

segunda-feira, agosto 31, 2009

Avó (em memoria da minha avó, que nos deixou no dia 7 de Agosto de 2009)

Vejo-te na tua plenitude. Apesar do hospital, da cama infinita onde te deitas, sem cabelo, olhos raiados de sangue, magra como nunca te vi antes, vejo-te na tua plenitude, porque é assim que a tua essência existe. Transbordas vida e contagias de uma energia vibrante quem te rodeia. Apesar do teu sangue estar doente, este sangue bom que também transporto, nunca se apagaram os traços e genes de bondade, compaixão e humildade com que nos dotaste. È tudo obra tua avó. A tua plenitude é esta – estes filhos, estes netos, este marido que cativaste para sempre, no maior exemplo de amor que conheço. Por isso estás aqui, corres-me no sangue, estás na casa sem ti, que te transborda pelas paredes, estás na cozinha, quando preparamos a comida, nos instrumentos que guardaste segundo a tua ordem, a tua lei. Estás nas fotografias de todos nós, as quais te esmeravas sempre por pôr na melhor das molduras. Apesar do cateter, do tubo de oxigénio nas tuas narinas, do soro que pinga e pinga e pinga com paciência complacente. Estás plena na mão cheia de amor que te trago hoje na hora da visita. Antes de entrar fechei bem o punho contra a sombra. Levantei o punho com a tua força e afasto esta sombra que se quer aproximar. Eu sei-te, sinto-te, conheço-te de uma vontade inamovível. Apesar da tua renúncia em ver-nos, dos teus gestos para que nos afastemos e nos vamos embora. Apesar do teu cansaço, férreo, pesado, cansaço. Apesar do teu corpo frágil e delicado neste quarto de hospital. Apesar da dor que sentes mais que todos nós, é o teu amor que me enche, que me move as pernas no caminho para cá e que me faz saber que te erguerás, que te agarrarás a esse sorriso delicadamente lindo, desenhado na tua boquinha sem dentes como um suave rasto de uma gota de orvalho numa verdinha folha, pela manhã luminosa como os teus olhos. Sei na pele que te erguerás. Vejo-te já, na tua plenitude, acenando-me nesse tempo futuro, parado na luz brilhante da esperança. Vejo-te acenando-me, na sombra carinhosa de uma oliveira do teu Alentejo, linda e cheia dessa alegria que sempre te povoou o coração.

domingo, julho 26, 2009

Covers (versão violino)

Sem palavras.






Tecnicodependente

Afinal talvez todos os hippies dos anos 60 tenham tido razão. Estamos todos demasiados dependentres da tecnologia. Acabo de perder o meu portátil e mp3. Sinto-me como se fosse nada. Um grande zero. Mas estranhamente, um zero bastante livre.

quarta-feira, julho 08, 2009

Cold Water - Damien Rice



Libertarei o meu corpo em água fria... para sempre....

quarta-feira, julho 01, 2009

Contemplando a queda

Puxaram-me o tapete. Sem aviso, deixaram-me cair de costas.

Ao contemplar o momento da minha queda, o céu abrindo-se aos meus olhos, as costas sentido a fria realidade do chão, apercebo-me da glória e do auge da vida. Fugaz, quase despercebida, a glória atinge-nos como brisa a que não damos valor. E agiganta-se á nossa frente quando caímos.

Doem-me as costelas de tanto bater no chão. O momento de extâse fecha-se no fim da queda. Não há mais nada no mundo. Apenas essa gigante pequena brisa.

Doem-me os ossos.
Agora apenas me deixem morrer junto ao chão.

terça-feira, maio 26, 2009

Outra voz para dizer que te amo

Peço a voz emprestada a Pablo Neruda:

XLIII

Busco um sinal teu em todas as outras,
no brusco, ondulante rio das mulheres,
tranças, olhos meio submersos,
pés claros que resvalam navegando na espuma.

De repente parece-me que te distingo as unhas
compridas,fugitivas, sobrinhas de uma cerejeira,
e é o teu cabelo que passa outra vez e parece-me
ver arder na água o teu retrato de fogueira.

Olhei, mas nenhuma tinha a tua pulsação,
a tua luz, a argila escura que trouxeste do bosque,
nenhuma tinha as tuas minúsculas orelhas.

Tu és total e breve, única entre todas,
e assim contigo vou percorrendo e amando
um vasto Mississipi de estuário feminino.

(in "Cem Sonetos de Amor" Pablo Neruda )