segunda-feira, agosto 31, 2009

Avó (em memoria da minha avó, que nos deixou no dia 7 de Agosto de 2009)

Vejo-te na tua plenitude. Apesar do hospital, da cama infinita onde te deitas, sem cabelo, olhos raiados de sangue, magra como nunca te vi antes, vejo-te na tua plenitude, porque é assim que a tua essência existe. Transbordas vida e contagias de uma energia vibrante quem te rodeia. Apesar do teu sangue estar doente, este sangue bom que também transporto, nunca se apagaram os traços e genes de bondade, compaixão e humildade com que nos dotaste. È tudo obra tua avó. A tua plenitude é esta – estes filhos, estes netos, este marido que cativaste para sempre, no maior exemplo de amor que conheço. Por isso estás aqui, corres-me no sangue, estás na casa sem ti, que te transborda pelas paredes, estás na cozinha, quando preparamos a comida, nos instrumentos que guardaste segundo a tua ordem, a tua lei. Estás nas fotografias de todos nós, as quais te esmeravas sempre por pôr na melhor das molduras. Apesar do cateter, do tubo de oxigénio nas tuas narinas, do soro que pinga e pinga e pinga com paciência complacente. Estás plena na mão cheia de amor que te trago hoje na hora da visita. Antes de entrar fechei bem o punho contra a sombra. Levantei o punho com a tua força e afasto esta sombra que se quer aproximar. Eu sei-te, sinto-te, conheço-te de uma vontade inamovível. Apesar da tua renúncia em ver-nos, dos teus gestos para que nos afastemos e nos vamos embora. Apesar do teu cansaço, férreo, pesado, cansaço. Apesar do teu corpo frágil e delicado neste quarto de hospital. Apesar da dor que sentes mais que todos nós, é o teu amor que me enche, que me move as pernas no caminho para cá e que me faz saber que te erguerás, que te agarrarás a esse sorriso delicadamente lindo, desenhado na tua boquinha sem dentes como um suave rasto de uma gota de orvalho numa verdinha folha, pela manhã luminosa como os teus olhos. Sei na pele que te erguerás. Vejo-te já, na tua plenitude, acenando-me nesse tempo futuro, parado na luz brilhante da esperança. Vejo-te acenando-me, na sombra carinhosa de uma oliveira do teu Alentejo, linda e cheia dessa alegria que sempre te povoou o coração.

2 Comments:

At terça-feira, 01 setembro, 2009, Blogger Adam Rex said...

Sem palavras para umas tão maravilhosas. Estou contigo, amigo.
Abraço

 
At segunda-feira, 18 agosto, 2014, Anonymous Anónimo said...

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