quarta-feira, maio 20, 2009

O Outro

Eu.

É a esta palavra que as correntes religiosas, seitas, psicoterapias, filosofias alternativas, seitas e afins se dedicam. A descoberta do Eu, o bem-estar do Eu, a harmonia do Eu...

Passo pelas montras das livrarias e nos escaparates vejo livros de auto-ajuda, livros mágicos que nos ensinam o segredo para vencer na vida e para ter sucesso e para sermos felizes e para o raio-que-nos-parta, pois estamos a transformar-nos em autómatos.

A fuga para o Eu é a forma mais cobarde que existe para não confrontarmos o mundo, por muito mau que este se afigure.
O que a maior parte destes livros e movimento nos ensinam é apenas como confortar a nossa mente com aquilo que queremos ouvir, como um enorme filtro que nos ensina a ignorar o contraditório.

Conheço uma mulher que vai a um Centro. Esse centro não exige dinheiro, é aberto, e não requer filiação. Mas esse Centro ensina matérias segundo um senhor (desculpem não usar nomes) que se autodenominou como Mestre, que se dizia em contacto com uma entidade divina e superior. Esses ensinamentos são apenas e só uma salganhada de conhecimento emprestado de vários quadrantes do saber e que , regra geral, põe em causa os conhecimentos transmitidos pelas disciplinas vulgares. Nesse Centro, aprendemos coisas oriundas de campos como a Psicologia Revolucionária (que nos diz que a Psicologia comum nos mente), a Antropologia Mistíca, Esoterismo, etc. Nesse centro, ensinam-nos que os homosexuais são degenerados, o rock é perversivo, que as mulheres de hoje em dia são masculinizadas, que as práticas sexuais entre um casal deve ser feita sem a libertação de esperma.
Mas pior, esse Centro ensina-nos como "pensar". Ensina-nos como acatar os absurdos que dizem como verdades absolutas, como ensinamentos verdadeiros que visam a auto-descoberta e o melhoramento do Eu. E fazem-no subtilmente, fazendo-nos sentir bem com o local e fazendo-nos sentir em contacto connosco próprios e em paz. Fazendo-nos pensar no EU.
"Fornecendo-nos um refúgio interior para o inferno do mundo."

O que realmente se ensina nesse Centro é como NÃO pensar pela nossa cabeça, adormecendo os sentidos e fazendo-nos concentrar no nosso pequeno mundinho umbilical.

Este Centro é apenas um exemplo. O mesmo fazem os livros de auto-ajuda e objectos semelhantes. Empurram-nos para dentro de nós mesmos.

A mulher que vai ao Centro entrou em crise. Tem discutido e guerreado com o Outro. Não aceita outro modo de ver, de sentir.
Que outro? Qualquer Outro.
Qualquer divergente.

O meu sentido de comunidade fez-me ouvir mais os outros, olhar para os outros, UNIR-ME mais com os outros. Não é dentro de nós que está a resposta. Ela é comunitária. A resposta são os outros, a divergência que nos faz pensar e que fortalece aquilo em que acreditamos, ou que põe em causa e nos leva à mudança, uma resposta dolorosa, dialética, necessariamente difícil.
Talvez essa mulher consiga ser feliz se aprender simplemente a olhar o outro. A ouvir o outro.
Talvez essa seja a forma do Mundo encontrar um caminho. Dialogando.
A melhor auto-ajuda não está em mim... Está no Outro.

1 Comments:

At sábado, 23 maio, 2009, Blogger Adam Rex said...

Muito bem dito.

 

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