Restlessness
Não consigo deixar de pensar. Seria bom apenas ver passar o tempo sem ter nada na cabeça, mas a verdade é que vivo mergulhado em angústia. Aqui em Manchester sinto-a menos porque estou longe. Mas a verdade é esta... Eu não pertenço a Portugal. Não sei que emprego irei ter, não sei que em que casa irei viver, não sei quando irei poder finalmente partilhar a minha vida com a Helena, numa conjugação de vontades independentes. Estou farto de estar dependente. Estou farto das circunstãncias. Estou num pais diferente e estou relativamente feliz. Não tenho aqui o meu amor e tenho muitas saudades dela (de ti, Helena), e deprime-me o facto de ela não poder vir aqui. Não por falta de dinheiro, não por falta de tempo ou vontade. Por causa das circunstâncias.
Deprime-me estar aqui sozinho (não estou a contar amigos) e ninguém me querer visitar. Tudo o que vejo aqui sabe-me sempre um pouco a amargo porque não posso partilhar com ninguém. Deprime-me ter que voltar.Deprime-me ter que me despedir de pessoas uma vez mais e de deixar um lugar que me preenche.
Quem me dera poder trazer a Helena para junto de mim e deixar a minha vida insignificante em Portugal. O nosso pais é bonito, sem dúvida. Nem sabemos a sorte que temos. Quando olho para toda a paisagem humana em Portugal, tudo me deprime. Sim, ainda somos os mais atrasados cultural e socialmente da Europa. O nosso teatro não existe e o nosso cinema, aparte um ou dois bons filmes, ainda menos. No que somos bons? No futebol. O Mourinho, esse Deus! Nas aparências - Oh sim senhor ministro vamos lá fazer um tratado de Lisboa para parecer bem à Europa!
Detesto que os espanhóis, tão parecidos connosco (e que entraram ao mesmo tempo na UE que nós) se estejam a impor na Europa e nós a anhar, como sempre.
Deprime-me ter que viver uma vida em silêncio, uma relação em silêncio, sem poder arrancar as pessoas das suas convicções duras e fazê-las ver que estamos no século XXI e isso quer dizer que já passou tempo suficiente para olharmos para trás e vermos o quanto (não) evoluímos.Penso em todas as ovelhas que vejo aqui na Inglaterra, e apercebo-me que eles só têm mesmo destas ovelhas enquanto em Portugal, as próprias pessoas são ovelhas.
Penso no R., no que sofreu e sofre por ser gay. Penso na L., que vive uma vida clandestina por amar uma mulher. Penso em todos os meus amigos que queriam fazer alguma coisa por si e viram os seus sonhos despedaçados, na vontade que tinham em ser professores e no que vão efectivamente ser - apenas licenciados. Penso na Helena e no tempo que está a perder a ensinar crianças em vez de estar a ensinar aqueles para que se formou e treinou. Penso em mim e nas conversas que tenho comigo mesmo antes de dormir. Penso no que seria se tivesse nascido noutro pais onde me dessem oportunidades - onde poderia ser realizador, por exemplo, eu que o adorava ser-, onde as pessoas fossem mais avançadas e não se preocupassem tanto com a opinião dos outros, onde todos pudessem fazer o que bem entendessem sem ter de ouvir pequenos sermões sobre quem são, sobre a menina que são e que portanto não podem fazer isto ou aquilo, porque parece mal, sobre o homem que são e que portanto têm de viver a vida dos homens.
Quero poder dizer que sou EU, independentemente do que os outros pensem, que decido a minha vida e que sou EU quem decido o que parece mal ou não.
E chego ao fim, querendo ir para a cama e dormir, acordar num outro dia, menos um, até qu alguém me diz: Oh, mas em Portugal temos o clima, a comida, o café, a praia, não temos guerras nem terrorismo.
Mas que paíszinho insignificante somos.
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