segunda-feira, setembro 15, 2008

A claridade entre as nuvens

- O que é a vida?
- É acordar. O corpo de borboleta arrancado da terra, num voo único. A claridade entre as nuvens, que me afaga os olhos. Dá-me uma mulher plena, mãos concretas nos seus actos, afirmativos seios e púbis gloriosa e mostrar-te-ei o que é a vida. De resto, não sei como te responder,apenas o silêncio entre a música, as gotas de chuvas que passam nossos corpos e não nos molham, apenas eles como evidências dessa divindade que chamo vida.
- E mesmo assim desejas morrer?
- Desejo ser uno. Desejo ser um desses instantes. A claridade intermitente entre as nuvens. Isso só se consegue com a morte.
- Morrerás,como tudo. Mas porquê viver a vida nesse desnorte, nessa pressa de ver Deus?
- Nada verei que não exista entre nós, neste instante. Apenas existo atento. A única forma de se conseguir isso é viver entre as pedras, baixo como nenhum outro ser humano esteve.Degradar-me a cada minuto é recordar-me da vitalidade do que me rodeia.

Só posso sentir o belo, se existir no que é feio.

(Salvador Bicho)