quarta-feira, fevereiro 25, 2009

The Reader - O leitor





Este é o meu filme favorito do ano. Não por ser o mais bem feito, que não é. Nem sequer é o melhor de Daldry, que tem em "As Horas" a osua melhor obra até agora.

Elegi este filme como o que mais me marcou este ano pelo tema, pela história, pelo quanto me faz pensar.

A interpretação de Kate Winslet é absolutamente notável. Ela consegue transmitir, sem ser histriónica, a dureza nascida de uma fragilidade aterradora que a sua personagem requer.

A culpa que assola não só Hannah (Winslet), mas tb Michael (David Kross/Ralph Fiennes), aparece-nos retratada de forma justa, sem exageros, como a distância temporal permite. As gerações pós-Holocausto têm nas mãos a gestão da culpa, e isso nunca é fácil.

Se a ignorância de Michael em relação ao passado de Hannah o permite aproximar-se dela e com ela desenvolver uma relação, uma vez quebrada essa ignorância, a relação torna-se difícil e a culpa apodera-se de Michael.

No entanto, a fraqueza nunca revelada de Hannah, a sua iliteracia, é usada contra si, fazendo-a ser condenada a prisão prepétua, em vez de 4 anos de prisão como as suas companheiras, igualmente culpadas.

A sociedade sedenta de apontar o dedo usa Hannah como bode expiatório, esquecendo-se que a culpa é de todos os que faziam parte da máquina Nazi, todos os que permitiram que ela existisse.

Há que salvaguardar que Hannah é culpada e não se pretende nunca, no livro, no filme, e aqui, desculpabilizá-la.

Se há lições a tirar do filme, é que a iliteracia é terrível. Não saber ler é algo de aterrador, porque sujeita o ser humano aos caprichos mais dementes da sociedade.

E não se trata apenas de iliteracia per se, mas a iliteracia em relação ao mundo, em relação à história.

O conflito aqui não é moral, mas emocional. Hannah é ao mesmo tempo, vítima e culpada, como todos somos, quaisquer que seja a circunstância histórica em que nos encontremos. Uns mais, outros menos. O mundo nunca foi a preto e branco.

O destino e a vida de Hannah são retratados de forma humana, num gesto que visa realçar o papel da justiça como meio de compreensão e não de demonização.

Só compreendendo a humanidade pode não cometer os erros do passado.
E para compreender, é preciso saber ler.